sábado, 3 de janeiro de 2009

A História do Campeonato Farroupilha

No ano de 1935, o Rio Grande do Sul se preparava para o centenário da Guerra dos Farrapos. Porto Alegre se embelezava para as comemorações do fato mais importante da história do Rio Grande. Em Setembro, na Semana Farroupilha, chegou o presidente da República, Getúlio Vargas, para prestigiar as comemorações.

Então, em homenagem ao centenário da Guerra Farroupilha, o Campeonato de Porto Alegre daquele ano foi denominado Campeonato Farroupilha. E para aquele Campeonato, já havia um favorito. E era o Internacional, que fora campeão da cidade e campeão estadual no ano anterior.

O primeiro Gre-Nal a ser disputado no Campeonato Farroupilha, foi no dia 28 de julho. Assim como era em relação ao Campeonato, o Inter também era o favorito para aquele jogo. O Grêmio estava enfraquecido com a saída do seu grande craque, Luiz Carvalho, que fora para o Vasco da Gama. No entanto, o caso mais grave era do goleiro Eurico Lara. Dois meses antes, numa partida contra o Santos, Lara se chocara com o atacante Mário Seixas e sofrera uma concussão no peito. Então, seu problema foi descoberto. Lara era cardíaco. Recebeu recomendação médica para não jogar mais. Apesar disso, Lara continuou jogando, e estava presente naquele Gre-Nal de 28 de julho, nos Eucaliptos.

Como sempre, Lara foi um dos destaques. Mas o protagonista daquela partida seria o ponta-esquerda Castilho, autor do célebre Gol do Avião. O motivo dessa denominação foi que durante o jogo, no momento que Castilho estava com a bola em frente à área colorada, um avião apareceu sobre o campo dos Eucaliptos e passou a fazer piruetas, o que levou o goleiro Penha e os zagueiros Natal e Risada olharem para cima surpresos e temerosos. Por outro lado, Castilho não deu bola para o avião e seguiu em frente e mandou a bola para o gol, pegando a defesa colorada de surpresa. Era o gol de empate do Grêmio, e o jogo terminou 1×1. Estranhamente após o jogo, Castilho desapareceu. Havia boatos de que os colorados, furiosos com tal gol, raptaram-no e que ele estava escondido numa casa no Belém Novo. Se isso é verdade ou não, ninguém sabe, mas Castilho voltaria em 1936, vestindo a camisa vermelha.

Já em meados de setembro, Castilho já estava sumido. E o Inter estava a um passo de conquistar o título Farroupilha. Além do favoritismo, o Grêmio ainda perdera para o Força Luz por 2×0, e esse resultado daria a vantagem de um ponto para a equipe colorada, o que daria também a vantagem do empate, para o Gre-Nal que decidiria o campeão do Campeonato Farroupilha. Para piorar a situação gremista, a doença de Lara piorara e os médicos o proibiram de jogar.

A confiança dos colorados era grande. Tão grande, que fez com que um torcedor colorado caçar 11 cachorros pelas ruas de Porto Alegre, e os pintasse de vermelho. Em seguida, o tal colorado os prendeu na caminhonete, deixando-os amontoados. Conduziu a sua caminhonete com os cachorros para o Fortim da Baixada. Deixou o veículo em frente ao local e foi para as arquibancadas. Seu plano era, com jogo terminado e com o Inter comemorando o título, soltar a cachorrada em pleno campo do rival para fazer farra.

Enquanto isso, Lara comunicava aos dirigentes e aos jogadores que jogaria de qualquer jeito, e que ninguém o impediria.

No Fortim da Baixada, dois terços da torcida era colorada, que fazia a festa, como se fosse um ensaio para o título iminente. A torcida gremista, por sua vez, vibrou quando viu Eurico Lara entrando no gramado.

E o ídolo gremista não decepcionou. Lara fez boas defesas. O Inter dominou o primeiro tempo. E a zaga tricolor formada por Dário e Luiz Luz trabalhou bastante e segurou o ímpeto colorado em fazer o gol. O primeiro tempo terminaria 0×0.

O problema era que empate daria o título ao Internacional. A torcida colorada passou o intervalo comemorando. E a parte vermelha do estádio teria mais um motivo para comemorar, para a aflição do lado azul. Lara não suportou as dores no peito, e com isso, não pôde voltar para o segundo tempo. Chico entraria no seu lugar.

Os jogadores do Internacional se estimularam ao ver que Lara não estava em campo e se atiraram à frente. Dário e Luiz Luz tiveram mais trabalho para impedir o gol colorado. Enquanto isso, na frente, os companheiros não encontravam um caminho que levasse à goleira de Penha.

Na época, cada tempo tinha 40 minutos. E aos 37 minutos do segundo tempo, o jogo ainda estava 0×0. Então, o tal torcedor colorado saiu das arquibancadas e foi até a caminhonete pegar os cachorros. Afinal, faltava pouco para a festa do título.

Enquanto isso, o Grêmio tinha uma falta na intermediária do Inter, muito próximo ao meio-círculo. Os torcedores colorados prosseguiam com a festa. No meio dela, Foguinho pega a bola com as mãos e se aproxima ao companheiro Mascarenhas cochichou em seu ouvido:

- Levanta no meio da área que o Risada vai tirar e eu vou pegar o rebote.

Foguinho deu a bola para o companheiro e foi à área colorada. Mascarenhas fez o combinado, levantou a bola para área adversária e Risada pulou e cabeceou a bola para frente. Mas antes mesmo da bola tocar no chão do meio-círculo da área, Foguinho chuta de pé esquerdo. A bola foi direto para as redes do goleiro Penha.

Os jogadores do Internacional não acreditaram no que estava ocorrendo. E tontos, dirigiram-se para o meio-de-campo para reiniciarem a partida. O juiz Francisco Azevedo apitou e a bola rolou. Mas Foguinho deu o bote e tomou a bola dos colorados. O jogador gremista seguia sem parar, e os colorados, desesperados, corriam atrás. Penha, percebendo a iminência do perigo, saiu para interceptar a bola de Foguinho, que por sua vez, passou a bola para Laci. O ponta só precisou empurrar a bola para a rede e sacramentar a vitória de 2×0 e o heróico e histórico título.

Junto com a torcida gremista, estava Lara, que conseguia unir forças para comemorar junto com os torcedores.

Já o tal colorado, tirou os cachorros da caminhonete. Houve o foguetório do primeiro gol, que assustou os cachorros, mas foram contidos com dificuldades pelo colorado. Entretanto, um minuto depois, estourou o segundo foguetório gremista, por conta do segundo gol. Então a matilha, já estressada por ficar presa na caminhonete, ficou enlouquecida e avançou no colorado, que foi parar no hospital. Mais tarde, o tal colorado não acreditara no que ocorrera, ao saber do resultado do jogo.

A festa continuou noite adentro na Baixada. Emocionado, o técnico Sardinha I sugeriu que o título do Centenário Farroupilha fosse comemorado por mais um século. A idéia foi aceita, e desde 1935, a cada 22 de setembro, o Grêmio realiza o Jantar Farroupilha para comemorar a grande conquista.


http://gremioimortal1903.wordpress.com/

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